A busca por reviravoltas em ‘Adolescência’ revela tendência a narrativas com surpresas

Stephen Graham e Owen Cooper em Adolescência

A minissérie ‘Adolescência’ da Netflix, que alcançou grande popularidade, apresenta uma característica singular: episódios gravados sem cortes. Contudo, um aspecto peculiar tem gerado discussões nas redes sociais: a expectativa frustrada de muitos espectadores por um plot twist que nunca se concretizou.

Um plot twist, em termos narrativos, consiste em uma reviravolta que altera o curso dos acontecimentos, surpreendendo o público e mantendo seu interesse. Essa técnica é amplamente utilizada em diversas formas de mídia, como filmes, séries, livros e videogames, com exemplos clássicos como a revelação de um amigo inofensivo como vilão ou a morte inesperada de um protagonista.

A escritora Claudia Lemes, especialista em thrillers, observa que o público se tornou ‘mal-acostumado’ à necessidade constante de surpresas, tornando-se facilmente entediado com narrativas mais lineares. Ela destaca que o plot twist, embora não seja um recurso obrigatório, tornou-se uma expectativa comum no gênero suspense, onde a ausência de uma reviravolta impactante pode ser vista como uma falha.

Lemes critica o uso de recursos desonestos para forçar plot twists, citando o exemplo do livro ‘A Paciente Silenciosa’, onde a manipulação da voz narrativa compromete a integridade da história.

Autores nacionais compartilham a opinião de Lemes, como Paula Febbe, que acredita que a internet impulsionou a busca por narrativas rápidas, comprometendo o desenvolvimento dos personagens. Febbe aponta que em ‘Adolescência’, a cena do protagonista cometendo um ato inesperado e sua interação com a psicóloga podem ser interpretadas como plot twists, revelando novas facetas do personagem.

Victor Bonini compara o plot twist a um vício, capaz de gerar euforia quando bem executado, mas que pode levar à desvirtuação da trama em busca de reviravoltas cada vez mais surpreendentes. Ele ressalta que a dependência por plot twists pode impedir que o espectador aprecie a história em si.

A especialista em livros Isabella Lubrano argumenta que o sucesso de ‘Adolescência’, que não se baseia em plot twists constantes, demonstra que esse recurso não é essencial para uma história interessante e relevante. Ela observa que o público tem elogiado a série, comprovando que a ausência de reviravoltas não compromete sua qualidade.

Vera Tobin, cientista cognitiva, oferece duas explicações para a popularidade dos plot twists. A primeira é a satisfação de ser surpreendido, que gera uma interpretação mais profunda da história. A segunda é a oportunidade de se ver enganado sem sentir vergonha, já que a revelação da reviravolta nos permite perceber a verdade como algo óbvio desde o início.

Em suma, a discussão sobre a ausência de plot twists em ‘Adolescência’ revela uma tendência do público em buscar narrativas com reviravoltas constantes, impulsionada pela cultura da internet e pela busca por surpresas. No entanto, o sucesso da série demonstra que uma história bem contada pode ser interessante e relevante mesmo sem a necessidade de plot twists elaborados.

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