A Polícia Federal deflagrou a Operação Teatro Invisível 2, desmantelando uma organização criminosa que utilizava recursos públicos desviados para financiar a disseminação de notícias falsas e influenciar o eleitorado em municípios do Rio de Janeiro. As investigações apontam para um prejuízo de R$ 3,5 bilhões aos cofres públicos, com mandados de busca e apreensão cumpridos em diversas cidades e o bloqueio de bens dos investigados.
A Polícia Federal (PF) deflagrou, nesta quarta-feira, a Operação Teatro Invisível 2, desmantelando uma sofisticada rede de desinformação que operava no estado do Rio de Janeiro durante períodos eleitorais. A investigação, que se desenrola em múltiplos municípios, mira o desvio de aproximadamente R$ 3,5 bilhões dos cofres públicos, utilizados para financiar encenações teatrais com o objetivo de manipular a opinião pública e influenciar o resultado das eleições.
Segundo as apurações da PF, o modus operandi da organização criminosa consistia na contratação de atores para simular diálogos em locais de grande circulação, como feiras e terminais de transporte público. Esses atores, pagos com recursos provenientes de contratos de serviços inexistentes, encenavam situações cuidadosamente roteirizadas para desmoralizar candidatos específicos e promover a disseminação de notícias falsas.
A operação, que cumpre mandados de busca e apreensão em endereços na capital, Cabo Frio, Itaguaí, Mangaratiba e Juiz de Fora, tem como um dos alvos o prefeito de Cabo Frio, Dr. Serginho (PL). Além disso, a Justiça determinou o bloqueio de contas dos investigados, totalizando os R$ 3,5 bilhões desviados, e a suspensão das atividades econômicas de oito empresas envolvidas no esquema.
Entre os investigados, figuram também candidatos a prefeito derrotados nas eleições de 2024, como o deputado estadual Valdecy da Saúde (PL), que concorreu em São João de Meriti, e Aarão (PP), postulante em Mangaratiba. Rubão (Podemos), que disputou a prefeitura de Itaguaí e chegou a ficar em primeiro lugar, mas foi impedido de tomar posse, também é alvo da operação.
Davi Perini Vermelho, conhecido como Didê (PSDB), presidente do Instituto Rio Metrópole, também está entre os investigados. Didê já havia sido preso em 2020, durante uma operação contra fraude na compra de respiradores pelo governo de Santa Catarina, sendo apontado como o proprietário da empresa responsável pela venda dos equipamentos.
A Polícia Federal descobriu que os atores eram pagos com o dinheiro desviado de contratos genéricos firmados entre prefeituras e as oito empresas sob suspeita. O grupo é acusado de obstrução de justiça, caixa 2, fraude em procedimentos licitatórios e lavagem de dinheiro.
As investigações revelaram que o grupo criminoso destruiu provas que poderiam incriminar seus integrantes, as quais estavam armazenadas em meios digitais. Além disso, foram encontradas evidências de que o grupo utilizou recursos não declarados à Justiça Eleitoral para favorecer candidatos políticos nas eleições de 2024.
Segundo a PF, alguns dos investigados são proprietários de empresas que fraudaram o caráter competitivo de procedimentos licitatórios em quatro municípios do Rio de Janeiro: Cabo Frio, Itaguaí, Mangaratiba e São João de Meriti. A organização criminosa utilizava um esquema que incluía transações ilegais por meio de contas de passagem, uso de dinheiro em espécie, empresas com vasta atividade econômica e a aquisição de bens de alto valor para lavar o dinheiro desviado.
Se condenados pelos crimes cometidos, os investigados podem ser sentenciados a penas máximas que, somadas, ultrapassam 27 anos de reclusão. A Operação Teatro Invisível 1, deflagrada em setembro do ano passado, prendeu quatro pessoas envolvidas no esquema. A quadrilha, com atuação em pelo menos 13 cidades do estado, contratava atores para realizar um teatro de rua com o objetivo de influenciar o voto, sempre desmoralizando determinados candidatos.
Os atores simulavam diálogos entre eleitores, brigas em comícios, denúncias falsas de corrupção e cenas de suposta violência ou vandalismo atribuídas a apoiadores de determinados políticos. As encenações eram gravadas com celulares ou câmeras disfarçadas e disseminadas de forma coordenada nas redes sociais, com legendas e montagens que reforçavam a falsidade.
Especialistas em direito eleitoral e combate à desinformação consideram o caso da Operação Teatro Invisível um marco no uso de fake news no Brasil, fundindo o mundo digital e o físico para manipular a percepção do eleitorado de forma teatralizada e difícil de rastrear. A operação continua em andamento, com o objetivo de identificar todos os envolvidos no esquema e recuperar os recursos desviados dos cofres públicos.