Muros da sede do Corinthians são pichados com protestos contra o presidente Augusto Melo em meio à crise financeira e institucional do clube. Conselheiros e torcida organizada cobram transparência e cogitam impeachment.
A sede do Sport Club Corinthians Paulista, o Parque São Jorge, amanheceu com seus muros cobertos por pichações em um ato de protesto direcionado ao atual presidente do clube, Augusto Melo. As manifestações, repletas de mensagens críticas, refletem o crescente descontentamento de parte da torcida e de membros do clube com a administração vigente, em meio a uma severa crise institucional. As pichações, com frases incisivas, expõem a insatisfação com a gestão de Melo e exigem transparência em relação às finanças do clube. Termos como ‘Fora, Augusto Pinóquio’, uma clara alusão à falta de credibilidade atribuída ao presidente, ‘Impeachment já’ e ‘Doe Arena não é dinheiro do clube. Cadê as contas, Pinóquio?’ foram registrados nos muros da sede. As mensagens demonstram a urgência de uma resposta por parte da diretoria em relação às acusações e inconsistências levantadas.
O protesto ganha ainda mais relevância em um momento de extrema turbulência nos bastidores do clube. Recentemente, o Conselho Deliberativo reprovou as contas do exercício de 2024 com uma expressiva maioria de votos contrários: 130 contra 73 favoráveis e seis abstenções. A reprovação também ocorreu de forma unânime no Conselho Fiscal (3 votos a 0) e com ampla maioria no Conselho de Orientação (16 a 1), indicando uma forte resistência interna à forma como as finanças do clube estão sendo conduzidas. O parecer do Conselho Fiscal apontou diversas inconsistências e potenciais irregularidades nas contas, incluindo a identificação de contratos sem a devida documentação comprobatória e adiantamentos de receita que comprometeram a saúde financeira do Corinthians. Essas alegações lançam sérias dúvidas sobre a gestão financeira do clube e aumentam a pressão sobre Augusto Melo.
Antes da votação crucial, o presidente Augusto Melo tentou, sem sucesso, adiar o processo de análise das contas. Ele solicitou a reabertura das contas e uma revisão completa do balanço financeiro, mas seu pedido foi prontamente negado, o que intensificou o clima de tensão e desconfiança dentro do clube. A recusa em adiar a votação demonstra a determinação de alguns membros do clube em buscar respostas e responsabilizar os responsáveis por eventuais irregularidades.
De acordo com o balanço financeiro apresentado pelo Corinthians, o clube viu seu passivo aumentar em expressivos R$ 829 milhões entre 2023 e 2024. Com isso, a dívida total do clube alcançou a alarmante cifra de R$ 2,5 bilhões. Esse endividamento bilionário preocupa a torcida e os conselheiros, que temem pela sustentabilidade financeira do clube a longo prazo. A Gaviões da Fiel, principal torcida organizada do Corinthians, também se manifestou publicamente, exigindo transparência da diretoria e cobrando responsabilidade com o futuro do clube. Em uma nota oficial, a torcida expressou sua insatisfação com a falta de clareza na gestão e afirmou que ‘o tempo das desculpas e dos discursos vazios acabou’, demonstrando um tom de ultimato à administração de Augusto Melo.
Diante de um endividamento bilionário, contratos mal explicados e inconsistências nas prestações de contas, o Conselho de Orientação considera que o afastamento do presidente Augusto Melo é uma medida cabível no momento. O mandatário alvinegro pode, inclusive, enfrentar um novo processo de impeachment, o que agravaria ainda mais a crise interna do clube e colocaria em xeque sua permanência no cargo.