Lula encontra-se com Cristina Kirchner na Argentina, em meio a tensões políticas e negociações comerciais complexas. A ausência de um encontro com Milei destaca as divisões ideológicas na região.
Créditos: G1
Em visita oficial à Argentina, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem agendado um encontro com a ex-presidente Cristina Kirchner, atualmente cumprindo prisão domiciliar após uma condenação por corrupção. Este encontro, previamente autorizado pela justiça argentina, destaca-se em meio à ausência de uma reunião bilateral com o atual Chefe de Estado argentino, Javier Milei. A visita de Lula ocorre num momento de tensões políticas latentes, considerando a conhecida rivalidade entre Lula e Milei. A ausência de um encontro formal entre os dois líderes sublinha as divergências ideológicas e políticas que têm marcado as relações bilaterais desde a eleição de Milei.
O encontro com Cristina Kirchner, agendado para a tarde, sucede à Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul em Buenos Aires. Nas semanas que antecederam a visita, Lula expressou solidariedade a Kirchner após a Suprema Corte argentina rejeitar um recurso da defesa para anular sua condenação. Lula manifestou apoio à ex-presidente, elogiando sua resiliência face à situação.
Cristina Kirchner foi condenada por envolvimento em esquemas de corrupção que favoreceram o empresário Lázaro Báez. As acusações imputam a Kirchner o papel de liderança em uma organização criminosa responsável por desviar fundos públicos através de licitações fraudulentas. O montante desviado é estimado em US$ 1 bilhão. Kirchner nega veementemente as acusações, alegando que a sentença foi predeterminada.
A agenda oficial divulgada pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência não inclui qualquer reunião bilateral entre Lula e Milei. Esta é a primeira visita de Lula à Argentina desde a posse de Milei, em dezembro de 2023. O formato das cúpulas do Mercosul geralmente inclui encontros reservados entre presidentes, mas tal não ocorrerá entre Lula e Milei.
Durante a campanha eleitoral, Milei teceu duras críticas a Lula e ao Partido dos Trabalhadores (PT). Em visita ao Brasil em 2024, Milei reuniu-se exclusivamente com o ex-presidente Jair Bolsonaro, evidenciando suas preferências políticas e alianças ideológicas.
A cúpula do Mercosul em Buenos Aires marca a transferência da presidência rotativa do bloco da Argentina para o Brasil. Este mecanismo estabelece que cada país lidera o Mercosul por um período de seis meses, sendo responsável por coordenar negociações e encontros de alto nível. O evento ocorre após o anúncio do acordo de livre comércio entre o Mercosul e a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA), composta por Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein. Segundo o Itamaraty, esta parceria criará uma zona de livre comércio com um mercado potencial de quase 300 milhões de pessoas e um PIB superior a US$ 4,3 trilhões.
O governo brasileiro espera formalizar o acordo ainda em 2025. Paralelamente, Lula procura avançar na ratificação do acordo entre o Mercosul e a União Europeia, finalizado em 2019 após duas décadas de negociação. Este tratado enfrenta resistência de países como a França, cujo presidente, Emmanuel Macron, alega que os padrões ambientais exigidos aos produtores europeus são mais rigorosos do que os impostos aos sul-americanos. Lula tem defendido que a França apresente uma contraproposta para desbloquear as negociações, visando garantir um equilíbrio justo e sustentável nas relações comerciais entre os blocos. O cenário político e econômico da visita de Lula à Argentina é complexo, envolvendo tensões bilaterais, negociações comerciais e desafios na integração regional. O encontro com Cristina Kirchner assume um simbolismo particular, enquanto a ausência de uma reunião com Milei reflete as divisões ideológicas que persistem na região.
