Encíclica Humanae Vitae: a visão da Igreja sobre amor, sexo e procriação

A encíclica Humanae Vitae, do Papa Paulo VI, delineia a visão da Igreja Católica sobre casamento, sexualidade e procriação, enfatizando a abertura à vida, o amor conjugal e a importância do planejamento familiar natural.

Encíclica Humanae Vitae

A encíclica Humanae Vitae, promulgada pelo Papa Paulo VI em 1968, continua a ser um documento central para a compreensão da visão da Igreja Católica sobre o matrimônio, a sexualidade e a procriação. O texto aborda a importância da abertura à vida dentro do casamento, aprofundando a compreensão sobre como os casais católicos podem viver sua fé em relação à geração de filhos.

A base dessa perspectiva reside na crença de que o matrimônio não é um evento fortuito, mas sim uma instituição divina destinada a cumprir um propósito de amor. Segundo a encíclica, o Criador estabeleceu essa união para que os cônjuges se aperfeiçoem mutuamente e colaborem com Deus na criação e educação de novas vidas. O casamento, portanto, transcende a mera união afetiva e se torna uma participação no plano divino da criação.

Dentro da tradição católica, o casamento é visto como uma extensão do sacramento do batismo, naturalmente vocacionado a gerar frutos. Essa visão se alinha com as passagens bíblicas que frequentemente retratam Jesus como o ‘noivo’ e a Igreja como ‘a noiva’, simbolizando uma união fecunda e abençoada. A encíclica Humanae Vitae enfatiza que o ato sexual no casamento possui dois propósitos indissociáveis: a união dos cônjuges e a procriação de filhos.

O Papa Paulo VI detalha que o ato conjugal, ou seja, a prática sexual dentro do casamento, une profundamente o casal, capacitando-o para a geração de novas vidas de acordo com as ‘leis inscritas no próprio ser do homem e da mulher’. Essa perspectiva reconhece a importância da dimensão física e biológica da sexualidade, integrando-a à dimensão espiritual e emocional do amor conjugal.

A encíclica apresenta diversas noções sobre o sexo dentro do matrimônio, delineando as características de um amor conjugal autêntico e alinhado com a fé católica:

  • O sexo possui um ‘sentido de amor mútuo’, nascendo da comunhão entre os dois seres durante o ato.
  • As relações sexuais são uma expressão do amor humano, tanto ‘espiritual’ quanto ‘sensível’, que não se resume a mero instinto ou sentimento.
  • O amor conjugal, e sua expressão física, não deve ter ‘reservas’ ou ‘cálculos egoístas’, mas sim ser uma decisão tomada em conjunto.
  • O ato conjugal não pode ser imposto a um dos cônjuges ‘sem consideração pelas suas condições e pelos desejos legítimos’, pois, caso contrário, não seria um verdadeiro ato de amor. O sexo deve ser sempre consensual e recíproco.
  • Como ‘Deus é amor’, qualquer ato sexual que prejudique a disponibilidade para transmitir a vida dada pelo ‘criador’ descaracteriza o ato como ‘um ato de amor recíproco’, representando uma contradição ao propósito da união do casal.

A encíclica incentiva os casais a praticarem o planejamento familiar de forma responsável, buscando ‘o bem do homem’. Paulo VI reconhece a importância da inteligência humana na colaboração com o Criador, mas ressalta que essa colaboração deve sempre respeitar a ordem estabelecida por Deus. Nesse contexto, a encíclica recomenda o uso dos chamados ‘períodos infecundos’.

Os casais podem optar por limitar as relações sexuais aos dias não férteis da mulher, buscando espaçar o nascimento dos filhos quando existirem motivos sérios, como condições físicas ou psicológicas dos cônjuges, ou ainda circunstâncias externas como dificuldades financeiras ou limitações na capacidade de educá-los. Esse tipo de planejamento familiar é aceito pela Igreja porque se baseia em uma condição natural, sem interferir nos processos biológicos criados por Deus.

A encíclica Humanae Vitae reafirma que a adoção desse método mantém o sexo como uma manifestação de afeto, protege a ‘fidelidade mútua’ e mantém em aberto a possibilidade de procriação conforme a vontade divina. Se a mulher engravidar ao utilizar esse método, semelhante à tabelinha, essa gravidez seria vista como parte do plano divino.

Além do uso de contraceptivos, a encíclica também condena o aborto e a esterilização, seja temporária ou permanente, tanto para homens quanto para mulheres. Esses atos são considerados ilícitos por se oporem à natureza humana e à vontade de Deus. A Igreja, no entanto, faz uma ressalva importante: o uso de contraceptivos para ‘curar doenças do organismo’ é aceitável quando ‘verdadeiramente necessários’, mesmo que resulte em impedimento à procriação, desde que essa não seja a intenção primordial do casal.

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