Clara Charf, ativista brasileira, completa 100 anos com uma história de vida dedicada à luta pela democracia, justiça social e direitos das mulheres. Sua trajetória é marcada pela resistência à ditadura, exílio e um profundo compromisso com a transformação social.
Créditos: Agencia Brasil
Aos 100 anos, Clara Charf personifica a força, a resiliência e uma dedicação inabalável à liberdade e à justiça. Sua vida, marcada por paixões e compromissos, reflete uma trajetória singular de luta e superação. Testemunhas de sua jornada a descrevem como uma mulher à frente de seu tempo, cujo legado ecoa através das gerações.
Clara enfrentou desafios imensos, desde a prisão e o assassinato de seu companheiro, Carlos Marighella, até o exílio e o recomeço. Atualmente, reside em São Paulo com sua irmã, Sara Grinspum, que a descreve como uma companheira constante e uma defensora incansável da liberdade e do bem-estar social. Sara destaca o compromisso de Clara em ajudar as pessoas, especialmente após a perda precoce de sua mãe.
Iza Grinspum Ferraz, documentarista e sobrinha de Clara, a define como uma pessoa inquieta, com um desejo profundo de transformar o mundo e viver livremente. Desde jovem, Clara desafiou estereótipos, tornando-se aeromoça na década de 1940, demonstrando sua busca por independência e sua preocupação social.
A militância de Clara começou aos 16 anos, impulsionada por um forte senso de justiça. Sua união com Carlos Marighella em 1947 consolidou uma parceria na luta contra a ditadura militar. Após o golpe, Clara enfrentou a perseguição e a prisão, mas jamais abandonou seus ideais. Iza ressalta a paixão de Clara pelo Brasil, pela América Latina e pela luta por melhores condições de vida para todos.
O assassinato de Marighella causou profunda dor, mas Clara manteve seu otimismo e alegria. Exilada em Cuba durante o período do AI-5, ela permaneceu distante da família por muitos anos. O reencontro em Portugal em 1975 foi um momento de intensa emoção, marcado por abraços e lágrimas. Clara retornou ao Brasil em 1979, após a Lei da Anistia, e retomou sua atuação política.
De volta ao Brasil, Clara se engajou na luta pelos direitos das mulheres, pela liberdade e por uma sociedade mais justa e igualitária. Candidatou-se a deputada estadual em 1982, pelo Partido dos Trabalhadores, mas não se elegeu. Sua trajetória demonstra um compromisso contínuo com a justiça social e a igualdade de direitos.
Nascida em Maceió, Clara é filha de um judeu russo que fugiu da Europa. Aprendeu inglês e piano, demonstrando sua busca por conhecimento e cultura. A família mudou-se para Recife, onde sua mãe faleceu prematuramente. Diante das dificuldades, Clara mudou-se para o Rio de Janeiro, filiou-se ao Partido Comunista e conheceu Carlos Marighella.
A união de Clara e Carlos fortaleceu a luta por um Brasil mais justo durante a ditadura. Após a morte de Marighella e o exílio, Clara continuou a defender seus ideais, participando do Partido dos Trabalhadores e lutando pela democracia e pelos direitos das mulheres.
Em 2005, Clara coordenou no Brasil o movimento Mulheres pela Paz ao Redor do Mundo, promovendo a indicação de mil mulheres ao Prêmio Nobel da Paz. Esse projeto desafiador envolveu a escolha de 52 ativistas brasileiras, cada uma responsável por conscientizar jovens sobre a importância do conhecimento e dos direitos.
A vida de Clara Charf é marcada por intensidade e diversidade, desde aeromoça até dirigente comunista, de companheira de Carlos Marighella a coordenadora de projetos internacionais de paz. Sua militância é um legado histórico para o Brasil. Vera Vieira, dirigente da Associação Mulheres pela Paz, destaca o poder da fala de Clara e sua capacidade de inspirar e mobilizar pessoas.
A Associação Mulheres pela Paz busca expandir a visibilidade da história de Clara, planejando publicar um livro com entrevistas de pessoas que fizeram parte de sua vida. Cineastas como Silvio Tendler e Iza Grinspum Ferraz defendem a importância de contar a história de Clara, destacando sua generosidade e seu impacto na luta pela justiça social.
Mesmo com problemas de memória, Clara continua a expressar o desejo de melhorar a vida das pessoas. Sua irmã, Sara, afirma que Clara frequentemente discursa sobre os direitos das mulheres. A força, o sorriso e os ideais de Clara resistem ao tempo, inspirando novas gerações a lutar por um mundo mais justo e igualitário.