Restrições no GPS: Impactos Potenciais no Brasil e Alternativas para Uber e iFood

Especialistas avaliam os impactos de possíveis restrições ao GPS americano no Brasil, com foco em serviços como Uber e iFood. A diversificação de sistemas de navegação e a adaptação de aplicativos são apontadas como medidas para mitigar os efeitos de uma eventual sanção.

Impactos do GPS no Brasil

Em um cenário que ecoa premissas de filmes de ficção científica, a recente discussão sobre possíveis sanções dos Estados Unidos ao Brasil, incluindo o bloqueio ou degradação do sinal do GPS, reacendeu o debate sobre a dependência tecnológica do país e seus impactos em serviços essenciais. A reportagem do jornal “Folha de S.Paulo” trouxe à tona a possibilidade de Donald Trump impor restrições ao acesso ao sistema global de posicionamento por satélite (GPS), controlado por países como os EUA. Diante dessa ameaça, especialistas em tecnologia e segurança digital analisaram os potenciais efeitos sobre empresas como Uber, iFood, 99, Waze e Google Maps, bem como sobre o sistema de monitoramento de ônibus em grandes metrópoles como São Paulo.

Wally Niz, diretor da Navita Enghouse, empresa especializada em gerenciamento de dispositivos móveis, enfatiza que uma interrupção total do sinal de GPS americano teria consequências “catastróficas”. Segundo ele, a impossibilidade de determinar o posicionamento de veículos, rastrear entregadores e calcular rotas com o Waze afetaria não apenas os aplicativos de uso diário, mas também setores críticos como aviação, logística, agronegócio e petróleo. Niz ressalta que o GPS é fundamental para controlar o tráfego aéreo, operar colheitadeiras, mapear terrenos de mineração e até mesmo para campanhas de marketing digital baseadas em localização.

Apesar do tom alarmista, especialistas ponderam que um “apagão total” do GPS é improvável. O cenário mais plausível seria uma redução na precisão da navegação GPS. Alexis Aguirre, diretor da empresa de segurança digital CyberGate para a América Latina, destaca que a maioria dos smartphones modernos já é compatível com outras redes de satélites, como a europeia Galileo, a russa Glonass e a chinesa BeiDou. Essa diversificação de sistemas de posicionamento global minimizaria os impactos de uma eventual restrição ao GPS americano.

Pedro da Cunha, especialista em inteligência artificial, corrobora essa visão, afirmando que a maioria dos aparelhos fabricados nos últimos cinco anos suporta múltiplas constelações de satélites. Usuários com celulares atualizados dificilmente perceberiam grandes diferenças. No entanto, aqueles que utilizam modelos antigos, dependentes exclusivamente do GPS americano, poderiam enfrentar dificuldades de acesso aos serviços. O impacto mais significativo seria sentido por usuários de aparelhos mais antigos ou de entrada, bem como por empresas que utilizam equipamentos próprios de geolocalização, como sistemas de rastreamento logístico.

No que tange às plataformas de mobilidade como Uber e iFood, Pedro da Cunha explica que sua funcionalidade depende da tecnologia disponível no dispositivo do usuário ou motorista. Portanto, não seria necessário reescrever completamente os aplicativos, mas a qualidade do serviço estaria diretamente relacionada à capacidade dos smartphones de captar outras redes de satélites. Wally Niz acrescenta que, mesmo com dispositivos compatíveis, os aplicativos precisariam ser adaptados para utilizar corretamente outros sistemas de geolocalização, um processo que demandaria tempo e causaria transtornos temporários.

Os especialistas concordam que um bloqueio direcionado ao Brasil seria extremamente improvável e complexo do ponto de vista técnico. Wally Niz explica que os satélites já estão em órbita e não há como impedir que emitam sinal para uma região específica como o Brasil. A alternativa seria o uso de técnicas de “jamming” ou “spoofing”, que interferem no sinal ou transmitem coordenadas falsas. No entanto, essas técnicas são caras, imprecisas e geralmente restritas a contextos militares específicos.

Alexis Aguirre reforça que, embora os EUA tenham embargado tecnologias para países como Irã ou Coreia do Norte, nunca aplicaram esse tipo de medida contra uma nação considerada aliada, como o Brasil. Pedro da Cunha complementa que um bloqueio total do GPS afetaria não apenas o Brasil, mas também países vizinhos, rotas de navegação e sistemas de aviação, o que o tornaria politicamente delicado e operacionalmente arriscado. Apesar da improbabilidade de um corte total do GPS americano, a discussão serve como um alerta sobre a dependência do Brasil em relação a infraestruturas geopolíticas controladas por outras nações. Em um cenário de tensões comerciais e tecnológicas globais, essa vulnerabilidade se torna evidente. A boa notícia é que o país está mais preparado do que se imagina. A tecnologia evoluiu, os aparelhos modernos já estão integrados a diferentes sistemas de navegação, e o impacto imediato de uma possível sanção seria restrito, embora com potencial para causar transtornos temporários.

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