O ‘AI Slop’ inunda as redes sociais com conteúdo gerado por IA de baixa qualidade, levantando questões sobre desinformação e o futuro da interação online. Redes como o Facebook estão adotando medidas para identificar conteúdos de IA, enquanto especialistas alertam sobre os riscos da desinformação e a importância da conscientização.
As redes sociais, antes vistas como espaços de conexão genuína, estão cada vez mais inundadas por conteúdos gerados por Inteligência Artificial (IA) que, muitas vezes, carecem de sentido e relevância. Vídeos bizarros, imagens irreais e até mesmo dicas de turismo completamente absurdas são alguns exemplos do que se convencionou chamar de ‘AI Slop’. Este fenômeno, que se traduz como ‘desleixo da IA’, levanta questões importantes sobre a qualidade da informação e o futuro da interação online.
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O termo ‘AI Slop’ ganhou força no ano anterior, quando o Google tentou implementar um sistema de resumo automático de buscas usando IA. Os resultados, frequentemente incoerentes e imprecisos, forçaram a empresa a repensar a abordagem. A expressão, que surgiu em fóruns online, descreve conteúdos que não agregam valor às pesquisas e que, em muitos casos, são criados com o objetivo principal de gerar receita e atrair tráfego para determinados sites, com o mínimo de intervenção humana possível. Simon Willison, um desenvolvedor que apoia o uso do termo ‘slop’, enfatiza a importância de nomear o problema. Segundo ele, isso oferece às pessoas uma forma concisa de discutir o impacto negativo da geração e publicação de conteúdo de IA sem revisão. Assim como o termo ‘spam’ popularizou a percepção negativa das mensagens publicitárias indesejadas, ‘slop’ pode ajudar a conscientizar sobre os riscos da produção desenfreada de conteúdo automatizado.
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Embora o ‘AI Slop’ possa parecer inofensivo à primeira vista, ele apresenta riscos significativos. Diferentemente das ‘deepfakes’, que explicitamente distorcem a realidade, o ‘slop’ pode disseminar informações imprecisas, simplificações excessivas e até mesmo vieses, apresentados de forma confiante como se fossem verdade. O objetivo principal não é enganar, mas sim engajar o público, explorando a capacidade da IA de criar conteúdos envolventes, úteis e lucrativos, mesmo que a veracidade seja comprometida. A proliferação do ‘AI Slop’ também reforça a chamada ‘Teoria da Internet Morta’, que postula que a maior parte do conteúdo online é gerada por bots e algoritmos, em detrimento da atividade humana orgânica. Essa teoria sugere que a internet está se tornando um espaço dominado por manipulação e desinformação, onde a interação genuína entre pessoas é cada vez mais rara.
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Um exemplo citado pelo ‘Guardian’ ilustra bem o problema: um artigo de viagens da Microsoft, gerado por IA, sugeria que um banco de alimentos em Ottawa, Canadá, era uma atração turística. Outro caso notório é o das imagens bizarras de Jesus Cristo que se espalharam pelo Facebook, reacendendo a discussão sobre a ‘Teoria da Internet Morta’ e a perda da conexão humana nas redes sociais. Yoshija Walter, da Universidade Kalaidos de Ciências Aplicadas, observa que as redes sociais falharam em sua missão original de conectar pessoas. Em plataformas como TikTok e Instagram, o consumo de conteúdo de outros, muitos dos quais desconhecidos ou até mesmo inexistentes, se tornou a norma, em detrimento da comunicação e interação autênticas.
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Um estudo da Europol, divulgado em 2023, estima que 90% do conteúdo da internet será gerado por IA até 2026. Embora a IA tenha aplicações benéficas, como em jogos e serviços, o aumento da produção de mídia sintética também abre portas para a desinformação. Pesquisadores de Stanford e Georgetown descobriram que os algoritmos de recomendação do Facebook impulsionam a disseminação de conteúdo gerado por IA, que ganha força mesmo sem interações significativas. A Meta, empresa responsável pelo Facebook, informou que começou a rotular conteúdos gerados por IA, mas não pretende removê-los, nem mesmo aqueles com imagens manipuladas. A empresa argumenta que a transparência e o contexto adicional são a melhor forma de abordar o problema, e que a remoção de conteúdo implicaria em restringir a liberdade de expressão. No entanto, a decisão da Meta levanta preocupações sobre a responsabilidade das plataformas em relação à disseminação de informações falsas e enganosas.
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A proliferação de ‘AI Slop’ nas redes sociais representa um desafio para a qualidade da informação e a saúde do debate público. É fundamental que os usuários estejam atentos aos riscos da desinformação e que as plataformas adotem medidas eficazes para combater a disseminação de conteúdo falso e enganoso. A conscientização e a educação são ferramentas essenciais para navegar em um cenário online cada vez mais dominado pela Inteligência Artificial.