O ambicioso projeto de Akon de construir uma cidade futurista no Senegal, inspirada em Wakanda e movida a criptomoedas, enfrentou escândalos e acabou não se concretizando, deixando para trás promessas não cumpridas e um futuro incerto para a região.
A utopia futurista de Akon City, idealizada para ser um farol de inovação e sustentabilidade no Senegal, inspirada na icônica Wakanda, jamais se materializará. O projeto, que prometia revolucionar a economia e o turismo local com sua arquitetura arrojada, tecnologia de ponta e uma criptomoeda própria, desmoronou sob o peso de controvérsias e desafios logísticos.
Aliaune Damala Bouga Time Puru Nacka Lu Lu Lu Badara Akon Thiam, mundialmente conhecido como Akon, ascendeu ao estrelato na década de 2000 com hits que dominaram as paradas musicais. No entanto, nos últimos anos, o cantor e empresário senegalês-americano direcionou seus esforços para empreendimentos ambiciosos, buscando impactar positivamente o continente africano. Em 2014, lançou um projeto de energia solar para comunidades isoladas, um passo em direção ao sonho de construir um futuro melhor para sua terra natal.
Em 2018, Akon revelou seu plano audacioso: a construção de Akon City, uma metrópole planejada no Senegal, com uma economia baseada na ‘Akoin’, sua própria criptomoeda. A cidade, que seria construída em um terreno de 800 hectares doado pelo governo senegalês, prometia ser um centro de inovação, atraindo investidores, turistas e imigrantes senegaleses em busca de oportunidades.
O projeto, avaliado em US$ 6 bilhões, previa a construção de parques, condomínios, um estádio, uma universidade, resorts de luxo, escritórios, shoppings, escolas e um grande hospital, tudo com foco na sustentabilidade. Akon chegou a declarar que pretendia se aposentar na cidade, atraindo uma onda de otimismo e expectativa para a região.
No entanto, a realidade se mostrou bem diferente das promessas. Em 2021, surgiram os primeiros sinais de problemas. Devyne Stephens, ex-parceiro de Akon, moveu um processo contra o artista, alegando que Akon City e a Akoin possuíam características de um esquema de pirâmide. As obras não avançaram, e o projeto começou a enfrentar resistência da Sociedade para o Desenvolvimento e Promoção da Costa e das Zonas Turísticas (Sapco), que ameaçou cancelar o contrato caso não houvesse progresso até 2023.
A população local também se mostrou insatisfeita, já que muitos proprietários de terras desapropriadas para a construção da cidade não receberam a compensação financeira prometida. Em 2024, a desilusão era evidente. Apenas uma estrutura de boas-vindas e um centro para jovens foram construídos, financiados por Akon como parte de um acordo com a comunidade de Mbodiène.
Em abril de 2025, a Sapco anunciou o cancelamento oficial do projeto Akon City. Sete anos de promessas vazias, sem estradas, escolas, eletricidade ou empregos, deixaram uma marca de desconfiança na região. A criptomoeda Akoin também se mostrou um fracasso, com investidores questionando sua legalidade e gestão.
Apesar do revés, o governo senegalês ainda acredita no potencial da região e busca desenvolver um novo projeto urbano, visando os Jogos Olímpicos da Juventude de 2026, que serão sediados em Dakar. A decepção com Akon City serve como um alerta sobre os desafios e a complexidade de projetos ambiciosos, especialmente aqueles que envolvem criptomoedas e promessas de transformação radical.
A história de Akon City carrega um simbolismo profundo, especialmente para a diáspora africana. Akon idealizava a cidade como um santuário para afro-americanos reconectarem-se com suas raízes, a poucos quilômetros da Ilha de Goreia, um antigo entreposto do tráfico de escravos. A concretização desse projeto teria representado um marco histórico, mas a fantasia futurista, infelizmente, não resistiu à dura realidade.