A manifestação de apoio de Donald Trump a Jair Bolsonaro reacende o debate sobre patriotismo no Brasil, oferecendo à esquerda a chance de disputar esse tema e defender os interesses nacionais em contraposição ao alinhamento com o trumpismo.
Créditos: G1
A recente manifestação de apoio do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao ex-presidente Jair Bolsonaro, desencadeou reações intensas no cenário político brasileiro. Enquanto a extrema-direita celebra o endosso de uma figura influente globalmente, analistas apontam para uma oportunidade para a esquerda brasileira de ressignificar o conceito de patriotismo, tradicionalmente associado a discursos conservadores. Historicamente, a apropriação da ideia de pátria tem sido um desafio para a esquerda, frequentemente ofuscada por narrativas que a ligam a ideologias importadas e distantes dos valores nacionais.
No entanto, o alinhamento explícito entre o bolsonarismo e o trumpismo oferece um novo ângulo para o debate. A defesa de interesses nacionais, em contraposição a uma suposta submissão a influências externas, emerge como um ponto central nessa disputa. Lula, figura proeminente da esquerda, pode se beneficiar desse contexto, argumentando que sua plataforma prioriza a soberania e os interesses do Brasil, em contraste com seus oponentes. A imagem negativa de Trump entre os eleitores brasileiros, especialmente devido a políticas protecionistas que impactaram a economia nacional, reforça esse argumento. A menção ao boné ‘Make America Great Again’ usado por Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, durante um encontro com Trump, ilustra como essa associação pode ser explorada para questionar o compromisso de candidatos com a indústria nacional.
A esquerda brasileira, que por décadas enfrentou o lema ‘nossa bandeira nunca será vermelha’, agora se vê diante da oportunidade de afirmar: ‘nem vermelha, nem azul, nem branca’, indicando um patriotismo que transcende as divisões ideológicas tradicionais. A chave para o sucesso reside na capacidade de comunicar essa mensagem de forma eficaz, utilizando a linguagem do povo e explorando as redes sociais, onde o bolsonarismo demonstra grande habilidade. No entanto, a tarefa não é simples. A resposta inicial de Lula ao apoio de Trump, focada em conceitos como soberania, instituições sólidas e estado de direito, demonstra uma tentativa de atingir a elite intelectual. O desafio é traduzir esses conceitos em uma linguagem acessível ao eleitorado em geral, conectando-os com o sentimento de orgulho nacional e a defesa dos interesses do país.
O debate sobre o patriotismo, portanto, ganha novos contornos com a interferência de Trump. A esquerda brasileira tem a chance de redefinir esse conceito, desvinculando-o de discursos nacionalistas exacerbados e associando-o à defesa da soberania, da justiça social e do desenvolvimento nacional. O sucesso dessa empreitada dependerá da capacidade de traduzir essa visão em uma linguagem que ressoe com os anseios e valores do povo brasileiro. A questão central reside em como a esquerda pode efetivamente comunicar uma visão de patriotismo que ressoe com o eleitorado brasileiro, abordando preocupações como a soberania nacional, o desenvolvimento econômico e a justiça social. O desafio é traduzir esses ideais em uma linguagem acessível e envolvente, capaz de inspirar um senso de orgulho e unidade em um país profundamente dividido.