Após quatro décadas em cativeiro, tartaruga resgatada na Argentina busca lar nas águas brasileiras

Uma tartaruga marinha, após 38 anos em cativeiro na Argentina, é libertada e navega rumo ao Brasil, demonstrando notável adaptação e reacendendo esperanças para a conservação marinha.

Tartaruga marinha

Uma jornada improvável e comovente tem capturado a atenção de cientistas e amantes da natureza: a história de uma tartaruga marinha da espécie Caretta caretta, que, após passar 38 anos em cativeiro em um aquário na Argentina, foi devolvida ao oceano e agora navega em direção às águas brasileiras. Em março de 1984, pescadores na Argentina encontraram a tartaruga, debilitada, em suas redes. Em vez de retornar o animal ao mar, como era comum na época, ela foi enviada para um aquário em Mendoza, a mais de mil quilômetros do oceano. Lá, ‘Jorge’, como foi apelidada, viveu por quase quatro décadas em água doce, alimentando-se de ovos de galinha e carne bovina, uma dieta inadequada para sua espécie.

A situação de Jorge, que se tornou uma atração turística, gerou indignação. Uma petição online com 60.000 assinaturas exigia sua transferência para um centro de reabilitação marinha ou sua libertação no oceano. A pressão popular surtiu efeito, e a justiça argentina determinou a mudança da tartaruga. Três anos atrás, Jorge foi transferido para um centro de reabilitação em Mar del Plata. Lá, especialistas iniciaram um processo gradual de readaptação à água salgada e ensinaram-na a caçar o próprio alimento. A equipe monitorou de perto a tartaruga para garantir que estivesse apta a sobreviver na natureza.

Em abril, uma operação complexa, com apoio da Prefectura Naval Argentina, culminou na soltura de Jorge a 20 quilômetros da costa. Para a surpresa e alegria dos pesquisadores, a tartaruga nadou imediatamente para o norte, rumo ao Brasil, sua terra natal. Tartarugas marinhas tem a capacidade de retornar ao local onde nasceram.

‘Quando vi que ele nadou para o Norte, tive certeza que Jorge sabia para onde deveria ir. E aquilo me deixou menos aflita’, disse a pesquisadora Laura Prosdocimi, do Museu Argentino de Ciências Naturais.

Equipado com um rastreador via satélite, Jorge está sendo monitorado de perto. Os dados revelam que ele já percorreu mais de 2.000 quilômetros e está atualmente na costa do Rio de Janeiro, próximo a Angra dos Reis. Os cientistas acreditam que ele está seguindo as correntes marítimas quentes em direção à Praia do Forte, na Bahia, onde poderá se reproduzir e se alimentar.

A jornada de Jorge não é isenta de perigos. Ameaças como redes de pesca, ingestão de plástico e predadores espreitam no oceano. No entanto, até agora, ele tem demonstrado uma notável capacidade de adaptação. ‘Ele está indo muito bem, especialmente para quem ficou tanto tempo longe do mar’, avalia a pesquisadora Laura.

O caso de Jorge é considerado único no mundo. Raramente uma tartaruga marinha sobrevive tanto tempo em cativeiro e se readapta com sucesso à vida selvagem. Seu sucesso é um testemunho da resiliência da natureza e da importância da reabilitação animal. Os pesquisadores esperam que o rastreador continue a fornecer informações valiosas sobre o comportamento migratório das tartarugas marinhas. No entanto, a bateria do equipamento tem vida útil limitada. Em breve, Jorge seguirá seu caminho sem o acompanhamento humano.

‘Se tudo der certo, nunca mais teremos notícias dele, porque isso será um sinal de que Jorge retomou sua vida normal no mar. Tudo o que queremos é não voltar a vê-lo nunca mais. Muito menos morto’, conclui a pesquisadora. Este caso contrasta com exemplos negativos, como a soltura prematura de um golfinho no Brasil nos anos 80, que resultou na morte do animal. A cautela e o planejamento são cruciais em processos de reintrodução. A história de Jorge é um farol de esperança para a conservação marinha e um lembrete de que, com cuidado e dedicação, podemos corrigir erros do passado e dar aos animais selvagens uma segunda chance de viver em liberdade.

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