Após ser solto, MC Poze do Rodo desabafa sobre perseguição policial e defende sua arte, negando acusações de apologia ao crime e envolvimento com facções. A defesa alega perseguição à arte periférica.
O funkeiro MC Poze do Rodo, após ser libertado, utilizou sua voz para expressar um apelo contundente às autoridades policiais. Em declarações emocionadas, o artista clamou para que cessem o que ele descreve como uma perseguição implacável, alegando que a presença constante da polícia tem causado traumas profundos em seus filhos.
“Meus filhos pequenos têm trauma de polícia. Se meus filhos veem a polícia, eles choram. Eles estão com trauma de vocês. Vocês não param de vir aqui em casa. Me deixa em paz, porra”, desabafou o MC, evidenciando o impacto emocional da situação em sua família.
Em entrevista ao jornal O Dia, Poze do Rodo enfatizou sua trajetória como trabalhador e artista, buscando refutar as acusações que pairam sobre ele. “Eu tive minha luta, fui atrás, corri pra construir meu castelo. Não é com dinheiro de nada de errado. É com minha luta, é com meu show. Mais uma vez provando pra vocês que eu sou artista”, declarou, buscando reafirmar a legitimidade de sua ascensão profissional. O funkeiro também expressou indignação com o tratamento dispensado aos seus fãs durante sua saída do presídio. Uma grande multidão o aguardava, e a presença do também artista Oruam gerou tumulto e confrontos. “Eu estava saindo lá agora, com uma recepção maravilhosa com milhares de fãs, e o tratamento foi spray de pimenta, tiro de borracha na cara. Aí, eu pergunto: ‘Eu que sou bandido?'”, questionou, demonstrando frustração com a ação policial.
O artista ainda questionou se o tratamento que recebeu seria motivado por preconceito racial e social. “Por que estão fazendo isso comigo? É porque sou preto ou é porque sou favelado? Então parem de me perseguir e parem de atacar meus fãs”, exclamou Poze, levantando questões sobre a seletividade das abordagens policiais.
Segundo o MC, a Polícia do Rio de Janeiro nutre aversão por ele, o que explicaria as ações controversas. “A Polícia do Rio de Janeiro não gosta de mim e faz isso aí que vocês estão vendo. […] Pra quê? O que eles estavam fazendo de crime? Quem é criminoso que está ali agora? Não tem traficante aqui, não”, argumentou, buscando defender seus fãs e sua integridade.
A soltura de MC Poze do Rodo foi resultado de um habeas corpus concedido pelo Tribunal de Justiça. O desembargador Peterson Barroso, da Primeira Vara Criminal de Jacarepaguá, considerou que a prisão temporária de 30 dias seria excessiva para o andamento das investigações. Barroso destacou que o material apreendido durante a busca e apreensão seria suficiente para a continuidade do processo, sem a necessidade de manter o artista detido. “O material arrecadado na busca e apreensão parece ser suficiente para o prosseguimento das investigações, sem a necessidade da manutenção da prisão do paciente, valendo registrar que não há comprovação, por ora, de que ele estivesse com armamento, drogas ou algo ilícito em seu poder”, afirmou o desembargador.
A defesa de MC Poze do Rodo alegou que a prisão configurava uma perseguição à arte periférica e uma violação à liberdade de expressão. Os advogados argumentaram que as manifestações artísticas do músico, que retratam a realidade das comunidades marginalizadas, são protegidas por lei e não representam incitação direta a crimes. “A ação da Polícia Civil do Rio de Janeiro é seletiva e evidencia a perseguição à arte periférica. Fosse o paciente um artista ‘do asfalto’, certamente a prisão não ocorreria. O paciente não ultrapassou os limites da Liberdade de Expressão, uma vez que ele canta a realidade dos morros cariocas”, argumentou a defesa.
MC Poze do Rodo está sendo investigado por suposta apologia ao crime e envolvimento com o Comando Vermelho. De acordo com a Polícia Civil, o cantor realizava shows exclusivamente em áreas dominadas pela facção, e a segurança desses eventos era garantida por traficantes armados. As letras das músicas também estão sendo analisadas, sob a suspeita de que façam apologia ao tráfico de drogas e incitem confrontos entre facções rivais.
Em nota, a defesa de Poze do Rodo negou as acusações e afirmou que elas “não fazem sentido”. “Negam-se todas as ilações feitas, posto que não há acusação formal, e que jamais poderia ser feita, já que peças artísticas não podem sequer serem cogitadas para averiguação de letras ou significados permitidos ou proibidos”, declarou a defesa.