Uma pesquisa recente indica que a computação quântica pode se tornar prática em 10 anos, mas desafios técnicos e a falta de profissionais qualificados ainda são grandes obstáculos.
Créditos : Adrenaline
A promessa da computação quântica, com seu potencial para revolucionar indústrias e solucionar problemas intratáveis para os computadores atuais, reacende o debate sobre quando essa tecnologia deixará os laboratórios e impactará o mundo real. Uma nova pesquisa da Economist Impact revela um otimismo cauteloso, com 83% dos especialistas acreditando que a tão almejada ‘utilidade quântica’ – o ponto em que computadores quânticos superam os clássicos em tarefas práticas – poderá ser alcançada em até dez anos.
No entanto, essa previsão vem acompanhada de ressalvas. A ‘utilidade quântica’ não deve ser confundida com a ‘supremacia quântica’, demonstrações pontuais de superioridade em problemas específicos, muitas vezes artificiais. A verdadeira utilidade reside na aplicação efetiva da computação quântica em setores como saúde, finanças e logística, onde sua capacidade de processamento paralelo e manipulação de qubits (bits quânticos) pode gerar avanços significativos.
Atingir esse patamar, contudo, exige superar obstáculos consideráveis. Um dos principais desafios é a correção de erros. Qubits são extremamente sensíveis a interferências externas, o que pode levar a erros de cálculo. Desenvolver métodos eficazes para mitigar esses erros é crucial para garantir a confiabilidade dos computadores quânticos.
As opiniões sobre o prazo para a utilidade quântica divergem. Enquanto a startup finlandesa IQM vislumbra esse marco já no próximo ano, gigantes da tecnologia como Google e NVIDIA adotam posturas mais conservadoras. Sundar Pichai, CEO do Google, estima um prazo de cinco a dez anos, enquanto Jensen Huang, da NVIDIA, projeta um horizonte de pelo menos 15 anos. Essa disparidade reflete a complexidade do desenvolvimento da computação quântica e as incertezas inerentes ao processo.
A pesquisa da Economist Impact também aponta para a falta de clareza sobre o que realmente é a computação quântica como um entrave ao seu desenvolvimento. Muitos ainda a veem como uma tecnologia distante e abstrata, sem aplicações práticas no mundo real. Essa percepção equivocada pode dificultar o investimento e o apoio necessários para impulsionar a pesquisa e o desenvolvimento na área. Além disso, a escassez de profissionais qualificados representa um gargalo importante. A computação quântica exige um conjunto de habilidades multidisciplinares, que combinam física quântica, engenharia, ciência da computação e matemática avançada. A demanda por especialistas nessa área supera a oferta, o que tem gerado uma acirrada competição por talentos entre startups e grandes corporações.
As aplicações potenciais da computação quântica são vastas e abrangem diversos setores. Na área da saúde, por exemplo, ela pode acelerar a descoberta de novos medicamentos e terapias, simulando o comportamento de moléculas complexas com uma precisão sem precedentes. Na área financeira, pode otimizar algoritmos de negociação e gestão de riscos, permitindo decisões mais rápidas e eficientes.
No entanto, a computação quântica também apresenta riscos. Uma vez que computadores quânticos suficientemente potentes forem desenvolvidos, eles poderão quebrar os sistemas de criptografia que protegem a internet atualmente, expondo dados confidenciais e comprometendo a segurança cibernética. Esse cenário, conhecido como ‘Q-Day’, exige o desenvolvimento de novos métodos de criptografia quântica, capazes de resistir a ataques quânticos.
Em resumo, a computação quântica representa uma promessa tecnológica com potencial para transformar o mundo, mas ainda enfrenta desafios significativos. Superar esses obstáculos e aproveitar ao máximo as oportunidades que essa tecnologia oferece exigirá investimento contínuo, colaboração entre diferentes setores e uma comunicação clara e transparente sobre seus benefícios e riscos. Afinal, a computação quântica não é uma solução mágica para todos os problemas. Ela é uma ferramenta poderosa que, se utilizada de forma responsável e estratégica, pode impulsionar a inovação e o progresso em diversas áreas do conhecimento.
Aplicações:
- Simulação de moléculas para descoberta de novos medicamentos.
- Desenvolvimento de materiais inéditos a partir do nível atômico.
- Resolução de problemas complexos de otimização em setores como logística e finanças.