São Paulo enfrenta desafios climáticos crescentes, com ondas de calor, secas e inundações. A adaptação exige políticas públicas eficazes, financiamento climático e atenção às desigualdades sociais. A COP30 é crucial para aumentar o apoio financeiro aos países em desenvolvimento.
São Paulo, a metrópole vibrante da América do Sul, enfrenta um desafio crescente: as mudanças climáticas. Ondas de calor intensas, secas prolongadas, chuvas torrenciais e inundações devastadoras tornaram-se cada vez mais frequentes, impactando diretamente a vida de seus habitantes e expondo as profundas desigualdades sociais que permeiam a cidade. Em áreas como Paraisópolis, as altas temperaturas revelam a vulnerabilidade de comunidades carentes, enquanto no Jardim Pantanal, as inundações recorrentes escancaram as falhas estruturais de uma metrópole em constante transformação. A adaptação a essa nova realidade climática é, portanto, uma questão urgente e inadiável.
Especialistas renomados apontam que São Paulo possui os recursos financeiros e a expertise técnica necessários para se tornar uma cidade mais resiliente, capaz de antecipar, adaptar-se e se recuperar rapidamente diante dos eventos climáticos extremos. No entanto, a implementação eficaz de projetos e a integração da variável climática nas políticas públicas e orçamentárias ainda carecem de um olhar mais crítico e estratégico.
A cofundadora do Instituto Perifa Sustentável, Mahryan Sampaio, enfatiza que a prevenção é fundamental. ‘Nenhum desastre climático é inevitável. Eles são resultado da falta de planejamento urbano, da deficiência no escoamento da água e do acúmulo de lixo, reflexo da ausência de políticas públicas eficientes’, afirma.
A discussão sobre as mudanças climáticas em São Paulo não é recente. Desde 2009, a cidade conta com uma Política Municipal de Mudança do Clima (lei nº 14.933), que estabelece diretrizes para diversas áreas, como saúde, transporte, uso do solo e energia. Flávia Bellaguarda, diretora-executiva do LaClima, acredita que São Paulo poderia ser um exemplo para outras cidades, mas o tema ainda não recebe a prioridade política necessária.
‘Temos um corpo técnico engajado, mas falta vontade política para colocar em prática as ações necessárias’, lamenta Bellaguarda. Além da lei de 2009, a cidade possui o PlanClima, um plano de ação elaborado em parceria com a rede internacional de cidades C40, que identifica os principais riscos para São Paulo: chuvas intensas, secas, altas temperaturas e ondas de calor.
O PlanClima, dividido em cinco estratégias, tem como objetivo principal neutralizar as emissões de carbono da cidade até 2050 e integrar a variável climática nas decisões da prefeitura. As estratégias abrangem a redução de carbono, a adaptação da cidade, a proteção de pessoas e bens, a preservação da Mata Atlântica e a geração de trabalho e riqueza sustentáveis.
A prefeitura afirma que algumas ações do PlanClima já estão em curso, como a implantação de jardins de chuva, que ajudam a reduzir alagamentos, e a criação de bosques urbanos. Além disso, desde 2022, a prefeitura mapeia e oferece suporte técnico a hortas urbanas. A substituição da frota de ônibus por veículos elétricos também é uma medida em andamento, com 748 ônibus elétricos já em circulação.
Os investimentos municipais em ações de mitigação e adaptação às mudanças climáticas são significativos. Neste ano, cerca de R$ 20 bilhões dos R$ 125,6 bilhões aprovados na Lei Orçamentária Anual foram destinados a essa área. Os recursos são direcionados para diversas ações, como a renovação da frota de ônibus, a criação de parques e unidades de conservação e a gestão de riscos de desastres.
Mahryan Sampaio ressalta que, apesar do plano ser bem estruturado, é preciso um olhar mais atento às desigualdades sociais intensificadas pelas mudanças climáticas. ‘Precisamos falar sobre desigualdades de gênero, raça e território, e garantir que as comunidades periféricas tenham acesso e participação nas decisões sobre recursos e políticas públicas’, defende.
Para que a adaptação seja efetiva, é fundamental o financiamento climático, que engloba recursos para projetos de adaptação e mitigação. Esses recursos podem vir de fontes públicas e privadas, de governos estrangeiros e de bancos multilaterais. Flávia Bellaguarda destaca a importância da cooperação entre diversos setores para a implementação de projetos de adaptação.
São Paulo, como uma das maiores capitais da América Latina, é um destino atrativo para investimentos climáticos. O governo estadual lançou o Finaclima-SP, um mecanismo de financiamento climático voltado para o setor bancário apoiar iniciativas ambientais. No entanto, é crucial garantir que esses investimentos impactem positivamente a sociedade, protegendo as pessoas mais vulneráveis.
Sampaio defende a importância de projetos com participação comunitária, como os planos de bairros, para garantir que os recursos cheguem às periferias, que são as áreas mais afetadas pelas mudanças climáticas. ‘As periferias, as terras indígenas e as comunidades tradicionais são as que menos recebem recursos para a adaptação e a resiliência climática’, denuncia.
Bellaguarda alerta que a falta de conexão entre o setor econômico e a realidade das mudanças climáticas compromete a eficiência dos projetos. ‘Investir em infraestrutura sem considerar os riscos climáticos é desperdício de dinheiro. O local onde o projeto está sendo implementado hoje pode não ser o mesmo em poucos anos’, adverte.
O financiamento climático é um tema central da COP30, que será realizada em Belém. A conferência discutirá o montante que os países desenvolvidos devem destinar aos países em desenvolvimento para enfrentar os eventos climáticos extremos. A expectativa é que as negociações avancem para aumentar a meta dos fluxos financeiros para projetos de mitigação e adaptação.
Sampaio defende que o financiamento climático é uma questão de justiça. ‘Os países em desenvolvimento, que mais sofrem os efeitos das mudanças climáticas, precisam de recursos dos países desenvolvidos, que são os maiores responsáveis pelas emissões de carbono’, conclui.