
O Brasil está no centro de um movimento significativo impulsionado pela inteligência artificial (IA) e pela expansão das plataformas digitais. Empresas de data centers, tanto brasileiras como Elea e Tecto, quanto multinacionais como a alemã DE-CIX, estão expandindo suas operações no país. O foco é atender à crescente demanda das grandes empresas de tecnologia dos EUA e, em breve, das empresas europeias, que buscam serviços a partir do Brasil.
Data centers são a espinha dorsal da infraestrutura de telecomunicações que sustenta a IA e serviços digitais. Eles armazenam dados e processam tarefas complexas, complementando as capacidades dos dispositivos móveis. A proximidade dos dados aos consumidores reduz a latência, crucial para aplicações como transmissões ao vivo e telecirurgias. A indústria brasileira de data centers vê o momento como uma oportunidade única.
A Elea investirá cerca de R$ 1,7 bilhão na expansão de suas instalações em São Paulo para atender às demandas da IA. A Tecto, com um cabo submarino em Fortaleza e dois data centers na cidade, reservou R$ 5,7 bilhões para expansão, incluindo um novo data center de 20 MW em Fortaleza e outro de 200 MW em São Paulo, previsto para 2027. A Scala anunciou um investimento inicial de R$ 3 bilhões em Eldorado do Sul, RS, para uma “cidade dos data centers” com capacidade de 54 MW, expansível para 4.750 MW com um investimento adicional de R$ 500 bilhões. No Ceará, a Casa dos Ventos planeja investir R$ 50 bilhões em um data center de 876 MW no Complexo Portuário do Pecém.
A DE-CIX, maior operadora de PTT (ponto de troca de tráfego) do mundo, inaugurou suas operações no Brasil, construindo infraestrutura para troca de tráfego entre provedores e redes de internet. Seus pontos de interconexão no Rio e em São Paulo estarão localizados nos data centers da Elea, Ascenty e Equinix. Um PTT funciona como um aeroporto, facilitando voos diretos (transferência de dados) entre redes, reduzindo a latência, o tempo de resposta para as aplicações. Ivo Ivanov, CEO da DE-CIX, mencionou que a latência da Netflix é de 65 milissegundos, aceitável para filmes, mas inadequada para transmissões ao vivo, que exigem cerca de 25 ms. O objetivo é atingir 1 ms para replicar interações em tempo real.
A crescente demanda por serviços de cloud (Amazon, Microsoft, Google e Meta) e a necessidade de baixa latência para aplicações de IA são os principais impulsionadores. Atualmente, 70% dos aplicativos acessados no Brasil estão hospedados fora do país. A guerra na Ucrânia impactou o fornecimento de energia na Europa, levando países a reconsiderar a alocação de energia para data centers. No Brasil, apenas 30% das empresas hospedam seus dados em data centers de terceiros, indicando um potencial de crescimento significativo. O país é visto como um forte candidato para atrair investimentos devido à disponibilidade de energia renovável.
A indústria de data centers enfrenta desafios como a alta carga tributária sobre a importação de equipamentos e a demora na obtenção de licenças. O governo federal está desenvolvendo um plano para abordar essas questões, com incentivos para a indústria local e uma estratégia de longo prazo. O Congresso Nacional considera o assunto prioritário, buscando avanços nas políticas de data centers, inteligência artificial e energia.