Disputa global por chips: Estratégias divergentes entre EUA e Brasil

Enquanto os EUA investem na produção de chips para IA, o Brasil enfrenta incertezas sobre o futuro da Ceitec, sua principal empresa no setor.

Produção de chips

No cenário tecnológico global, uma dicotomia marcante se revela na abordagem em relação à produção de chips, componentes essenciais para a inteligência artificial e diversas outras tecnologias. Enquanto os Estados Unidos intensificam seus esforços para fortalecer a produção doméstica de semicondutores, o Brasil enfrenta um momento de incerteza em relação ao futuro da Ceitec, sua principal empresa de chips e a única fábrica desse tipo na América Latina.

O contraste é notável: o governo dos EUA adota uma postura proativa para reverter a dependência externa na fabricação de chips, implementando políticas que visam limitar o acesso de determinados países a esses componentes. Essa estratégia, iniciada durante o governo Trump e continuada pelo governo Biden, estabelece diferentes níveis de acesso, restringindo ou proibindo a compra de chips por países considerados rivais tecnológicos ou ameaças à segurança nacional.

Essa investida americana em prol da autossuficiência na produção de chips é vista como crucial para manter sua liderança tecnológica, especialmente em relação à China. O acesso irrestrito a esses componentes confere aos EUA uma vantagem estratégica, e a limitação desse acesso a rivais é considerada fundamental para preservar essa supremacia.

O movimento de repatriar a fabricação de chips também encontra ressonância nas grandes empresas de tecnologia, as chamadas Big Techs. A iniciativa ‘Make America Great Again’, liderada por Trump, busca atrair investimentos e instalações de empresas estrangeiras nos EUA. Um exemplo notório é o investimento de US$ 500 bilhões da Nvidia para fabricar supercomputadores de IA e produzir chips em solo americano, na planta da TSMC.

No Brasil, a situação da Ceitec é delicada. A empresa, que já enfrentou ameaças de fechamento durante o governo Bolsonaro, passou por uma recente revitalização, mas sua continuidade ainda não está garantida. Apesar de nunca ter gerado lucro, a Ceitec é vista por alguns como um investimento estratégico para o país, capaz de impulsionar a produção nacional de tecnologia a longo prazo.

Para além do retorno financeiro imediato, o investimento em produção de chips é considerado uma questão de soberania nacional. Não se trata de competir com gigantes como a Nvidia, mas de iniciar um processo que pode trazer benefícios significativos para o país no futuro.

A discussão sobre a importância dos chips ganha ainda mais relevância diante das projeções de consumo de energia da inteligência artificial. Estima-se que, em 2030, a IA será responsável por 3% do consumo global de eletricidade, um volume equivalente ao consumo anual do Japão. Esse aumento expressivo no consumo de energia reforça a necessidade de se repensar a produção e o uso de chips, buscando alternativas mais eficientes e sustentáveis.

Enquanto os Estados Unidos se preparam para um futuro onde a inteligência artificial demandará cada vez mais energia, o Brasil enfrenta o desafio de definir seu papel nesse cenário. A decisão sobre o futuro da Ceitec terá um impacto significativo na capacidade do país de acompanhar os avanços tecnológicos e garantir sua autonomia na produção de componentes essenciais para a era da inteligência artificial.

Inscrever-se
Notificar de
guest
0 Comentários
Mais votado
mais recentes mais antigos
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários

Seja um reporter BRConnect

weather icon

0
Adoraria saber sua opinião, comente.x