A torcida organizada Gaviões da Fiel, uma das mais emblemáticas do Sport Club Corinthians Paulista, enfrenta um impasse financeiro com o clube. Desde o início da gestão de Augusto Melo, a agremiação acumulou uma dívida que ultrapassa a casa do milhão de reais, originada de pendências relacionadas a ingressos e anuidades do plano Minha Torcida Quadra, integrante do programa Fiel Torcedor.
Segundo apurações, o montante exato da dívida é composto por aproximadamente R$ 692 mil referentes a ingressos não pagos – destinados exclusivamente aos membros da uniformizada – e cerca de R$ 420 mil em anuidades de associados (R$ 30 por pessoa) dos anos de 2024 e 2025. Um documento interno revela que, somente em 2025, 9.738 sócios da Gaviões encontram-se inadimplentes no programa Fiel Torcedor. Outras torcidas organizadas também apresentam débitos relacionados às anuidades, embora, diferentemente dos mensalistas, os associados das organizadas efetuem o pagamento de uma taxa anual.
Representantes do Conselho da Gaviões admitiram a existência de débitos referentes à anuidade do Fiel Torcedor durante uma reunião com as Comissões de Justiça e de Marketing do Conselho Deliberativo e da Comissão de Finanças do Cori (Conselho de Orientação) do Corinthians, bem como com o presidente do CD Romeu Tuma Jr., no dia 5 de abril. Contudo, alegaram desconhecer os débitos relacionados aos ingressos, apurados pelas comissões.
Em nota oficial, Romeu Tuma Jr., presidente do Conselho Deliberativo do Corinthians, esclareceu que a reunião foi solicitada pela mesa diretiva do Conselho da Torcida Gaviões da Fiel, na qual foram discutidos diversos assuntos de interesse do clube e da própria torcida, como o Fiel Torcedor, cambismo, desvio de ingressos, dívidas da torcida, contas do clube, empresas de segurança e o processo de impeachment. Ficou acordado que as informações seriam apresentadas ao conjunto do conselho da torcida, e aguardava-se o agendamento de uma nova data. No entanto, a reunião foi adiada devido a notícias sobre o possível afastamento de Tuma da presidência do CD.
A Gaviões da Fiel, em contato com o UOL, informou que não se pronunciará sobre o tema, pois o assunto está sendo tratado internamente com o clube. O Corinthians, por sua vez, não se manifestou sobre a questão até o momento. Caso haja um posicionamento oficial, a notícia será atualizada.
Uma nova reunião com todos os membros do Conselho da Gaviões, incluindo a diretoria, estava agendada para a última quinta-feira, com o objetivo de esclarecer os temas abordados anteriormente, incluindo a dívida. Nesse encontro, o Corinthians seria representado pelas mesmas comissões, com a presença do presidente do CD. No entanto, a reunião foi cancelada após a Comissão de Ética do Timão votar pelo afastamento preventivo de Tuma, sob a alegação de parcialidade na condução do processo de impeachment de Augusto Melo.
Um dia antes da votação da medida liminar de afastamento, Tuma enviou um ofício a Augusto Melo, solicitando todos os registros das organizadas, a pedido das Comissões. A expectativa do Cori é de que todos os débitos referentes a 2024 constem no balanço da atual gestão, cujas contas serão votadas pela assembleia do CD no dia 28 de abril.
Em um esforço paralelo, a Gaviões lançou, em novembro de 2024, uma campanha de arrecadação para a quitação da Neo Química Arena. A iniciativa, denominada “Doe Arena”, visa arrecadar R$ 700 milhões por meio de doações dos torcedores, valor acordado com a Caixa para o pagamento do financiamento do estádio. Até o momento, a campanha alcançou a marca de R$ 39.903.269,98 em cinco meses. O Corinthians já pagou R$ 78,4 milhões em juros, divididos em quatro parcelas trimestrais. Segundo o acordo vigente, a dívida principal começará a ser paga pelo clube em 2025, com prazo até 2041.
