Embraer diante de taxas de Trump: desafios e estratégias

A imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros por Donald Trump apresenta desafios significativos para a Embraer, impactando seus custos, produção e potencialmente seu quadro de funcionários. A empresa busca alternativas e negociações para mitigar os efeitos adversos.

Embraer e Donald Trump
Créditos: G1

A Embraer, gigante aeroespacial brasileira, enfrenta um cenário desafiador com a imposição de tarifas de 50% sobre produtos do Brasil pelo governo dos Estados Unidos, liderado por Donald Trump. Dada a sua forte dependência do mercado americano, com uma parcela significativa de sua receita proveniente de vendas para companhias aéreas dos EUA, a empresa se vê em uma posição delicada.

Analistas financeiros e a própria administração da Embraer alertam que essas tarifas podem elevar substancialmente os preços das aeronaves, afetando a competitividade da empresa no mercado global. Diferentemente de outros setores, nos contratos de venda de aeronaves, é comum que as companhias aéreas arquem com as tarifas de importação do país de destino. No entanto, a capacidade dessas empresas de absorver um aumento tão expressivo nos custos é limitada.

Alberto Valerio, analista do UBS BB, destaca a pressão sobre as margens financeiras das companhias aéreas, que já operam em um mercado com rentabilidade restrita. As estimativas da Embraer indicam que a tarifa de 50% pode adicionar R$ 50 milhões ao custo de cada aeronave. Esse aumento poderá levar ao cancelamento de pedidos ou ao adiamento de entregas, impactando o plano de produção da empresa e seus investimentos futuros.

Segundo o presidente da Embraer, a concretização dessas tarifas poderá resultar em uma redução de investimentos, queda na receita e rentabilidade, além de um possível ajuste no quadro de funcionários. A empresa projeta um custo de R$ 2 bilhões em tarifas apenas neste ano, podendo alcançar R$ 20 bilhões até 2030. O impacto, segundo Gomes Neto, pode ser comparável aos desafios enfrentados durante a pandemia de Covid-19, quando a Embraer registrou uma queda de 30% na receita e reduziu 20% de sua força de trabalho.

Uma das dificuldades da Embraer em lidar com as tarifas reside na impossibilidade de redirecionar facilmente os pedidos de clientes americanos para outros mercados. Isso se deve ao fato de que parte das aeronaves destinadas aos EUA foi projetada especificamente para atender às cláusulas de escopo dos sindicatos americanos, que determinam os tipos de aeronaves que podem ser operadas por companhias regionais. O modelo E175 da Embraer, por exemplo, é um dos poucos que cumpre esses requisitos.

Valerio, do UBS BB, ressalta que cerca de 35% a 36% dos aviões da Embraer foram feitos para o mercado norte-americano, e esses modelos têm baixa demanda em outros países, dificultando sua redistribuição. A Embraer tem buscado alternativas para contornar as tarifas desde que Trump anunciou uma taxa de 10% sobre produtos brasileiros, em abril.

O presidente da Embraer observa que a demanda por aviões comerciais não apresenta crescimento, com previsão de cerca de 45 pedidos por ano nos próximos 10 anos. Diante desse cenário, torna-se difícil justificar um investimento elevado para uma produção que permanece estável. A empresa está trabalhando para encontrar soluções para enfrentar essa situação no futuro, mas o impacto de curto prazo será certamente desafiador.

Outro risco importante para a Embraer é a possibilidade de o governo brasileiro aplicar a Lei de Reciprocidade Econômica. Cerca de 45% dos custos de produção das aeronaves da Embraer envolvem equipamentos provenientes dos EUA. Se o Brasil aplicar a lei, a empresa enfrentará aumento de custos tanto na exportação de aeronaves quanto na importação de componentes americanos.

A Lei de Reciprocidade Econômica, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em abril, prevê contramedidas a retaliações comerciais externas, oferecendo ao país instrumentos legais para reagir a medidas consideradas injustas, como a tarifa imposta por Trump.

O anúncio da tarifa de 50% pegou o mercado de surpresa. O vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, realizou reuniões com empresários de diversos setores para discutir os impactos da medida. Os empresários pediram ao governo que negocie com autoridades dos EUA o adiamento da entrada em vigor da tarifa por até 90 dias, mas o governo não planeja fazer esse pedido.

A Câmara de Comércio dos EUA e a Câmara Americana de Comércio no Brasil (Amcham) divulgaram uma nota conjunta pedindo uma negociação de “alto nível” entre os dois países. O presidente da Embraer demonstrou otimismo em relação à possibilidade de negociação entre Brasil e EUA, citando o acordo entre os Estados Unidos e o Reino Unido, no qual a taxa aeroespacial foi reduzida de 10% para zero. A Embraer tem se reunido com autoridades de alto nível nos Estados Unidos para mostrar a contribuição da empresa para o país e espera avanços concretos na negociação bilateral.

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