Analistas avaliam os objetivos estratégicos de Israel e Irã no contexto do recente conflito, que envolve ataques mútuos e preocupações com o programa nuclear iraniano. A reportagem explora as motivações de ambos os países e o papel dos Estados Unidos nas negociações nucleares.
Créditos: G1
O cenário geopolítico do Oriente Médio permanece instável, com Israel e Irã envolvidos em uma série de confrontos desde a última sexta-feira (13). Os eventos recentes resultaram em um número alarmante de fatalidades, ultrapassando a marca de 240 mortos, de acordo com fontes oficiais de ambos os países. A raiz do conflito reside no programa nuclear iraniano, juntamente com uma longa história de rivalidade pela influência regional. Nas últimas semanas, grandes cidades iranianas e israelenses têm sido alvo de bombardeios. Tel Aviv, Jerusalém e Teerã registraram explosões, intensificando as tensões já elevadas na região. Em busca de clareza sobre os objetivos de Irã e Israel no presente conflito, o G1 e a GloboNews consultaram especialistas na área.
Uriã Fancelli, mestre em relações internacionais pelas universidades de Estrasburgo e Groningen, e Hussein Kalout, cientista político e pesquisador de Harvard, compartilharam suas análises. Ambos concordam que nenhum dos países alcançou plenamente seus objetivos até o momento. Além disso, expressaram preocupação com a ameaça do Irã de se retirar do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP), alertando que tal medida poderia agravar a instabilidade e intensificar o conflito.
Desde a Revolução Iraniana de 1979, o regime dos aiatolás tem buscado diminuir a influência ocidental no Oriente Médio e consolidar o Irã como uma potência regional. Antes da revolução, o Irã era uma monarquia com fortes laços com os Estados Unidos e Israel. No entanto, a criação de uma república islâmica resultou em uma mudança de postura, com Israel sendo considerado um inimigo e o Irã buscando expandir sua influência na região.
De acordo com Uriã Fancelli, o Irã enfrenta atualmente uma situação complexa, marcada por uma crise econômica, insatisfação popular e enfraquecimento de aliados regionais. Apesar disso, o regime busca demonstrar força e manter sua presença ativa. Fancelli sugere que o Irã está tentando equilibrar dois movimentos simultaneamente: responder militarmente aos ataques israelenses para exibir seu poder de dissuasão, enquanto busca a mediação de países do Golfo para pressionar por um cessar-fogo.
Hussein Kalout, em entrevista à GloboNews, destacou que o Irã ainda não alcançou seus objetivos estratégicos e deve manter a retórica de participação nas negociações sobre um acordo nuclear. Ele também alertou para os riscos da possível retirada do Irã do TNP, comparando a situação com a da Coreia do Norte.
Israel, por sua vez, alega que o Irã está expandindo sua força militar com o objetivo de destruir o Estado israelense e o acusa de patrocinar o terrorismo globalmente. Em resposta, Israel lançou a operação “The Rising Lion” com o objetivo de eliminar a ameaça nuclear iraniana e se defender. Os alvos incluíram instalações-chave do programa nuclear iraniano, como a usina de Natanz, e resultaram na morte de líderes militares e cientistas nucleares iranianos.
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu declarou que o ataque destruiu grande parte do arsenal de mísseis balísticos iranianos. No entanto, Uriã Fancelli argumenta que Israel ainda está longe de atingir suas metas, como a derrubada do regime de Ali Khamenei e o desmantelamento completo do programa nuclear iraniano. Ele ressalta que a destruição total da infraestrutura de enriquecimento de urânio e a neutralização da rede científica envolvida seriam tarefas extremamente difíceis.
Fancelli também observa que Israel não conseguiu destruir completamente as instalações de Fordow, que estão localizadas a grande profundidade e exigiriam o uso de bombas específicas. Além disso, a ofensiva israelense não parece ter abalado as intenções do Irã, que agora ameaça abandonar o TNP, o que poderia levar a uma escalada ainda mais perigosa. Hussein Kalout concorda que Israel ainda não alcançou seus objetivos estratégicos e prevê que o conflito entre os dois países deve continuar por algum tempo.
Os Estados Unidos buscam convencer o Irã a interromper ou limitar seu programa nuclear por meio de um acordo internacional. Embora tenham se retirado do pacto em 2018, os EUA mantêm a pressão sobre o Irã para que negocie um novo acordo. O temor dos Estados Unidos é que o Irã desenvolva uma arma nuclear, o que o governo iraniano nega. Delegações do Irã e dos Estados Unidos se reuniram algumas vezes nos últimos meses, mas não houve avanços significativos nas negociações. Em meio ao conflito atual, o presidente Donald Trump continua a pressionar por um novo acordo nuclear e afirma que o Irã está perdendo o confronto com Israel.