Um relatório da Global Canopy revela que a maioria das grandes empresas falha em combater o desmatamento, com a Suzano sendo uma exceção. O estudo aponta para a falta de compromissos abrangentes e a fraca implementação, além de destacar a ligação entre desmatamento e abusos de direitos humanos. O relatório faz recomendações para diferentes grupos de empresas e enfatiza a urgência de ação para evitar riscos e custos futuros.
Um relatório recente da Global Canopy, denominado Forest 500, revelou que a grande maioria das 500 empresas mais influentes no comércio global de commodities falha em implementar medidas eficazes para combater o desmatamento. O estudo, intitulado ‘Empresas lucram, florestas caem: todos pagam o preço’, avaliou o desempenho dessas empresas em relação aos seus compromissos com a proteção florestal, conversão de ecossistemas naturais e direitos humanos associados. De acordo com o relatório, apenas 3% das grandes empresas com influência sobre commodities de risco florestal estão tomando medidas adequadas para proteger as florestas. A carne bovina foi identificada como a principal commodity associada ao desmatamento.
Em contraste com a tendência geral, a empresa brasileira Suzano S.A., do setor de papel e celulose, destacou-se como a mais bem avaliada no ranking pelo segundo ano consecutivo. A empresa declara que 100% de sua celulose e papel são verificados como livres de desmatamento e conversão, com a maior parte proveniente de plantações de eucalipto nos biomas Mata Atlântica, Cerrado e Amazônia, no Brasil. A Suzano atingiu 100% de sourcing certificado e livre de conversão de florestas.
Apesar de sua alta classificação, o relatório aponta que as plantações da Suzano têm sido associadas a impactos negativos em ecossistemas vizinhos e comunidades locais, incluindo o consumo excessivo de água e a poluição por pesticidas. A empresa reconheceu esses desafios e assumiu compromissos para enfrentá-los, como a meta de melhorar a disponibilidade hídrica em 44 bacias hidrográficas críticas até 2030.
A 11ª edição do relatório Forest 500 avaliou 500 empresas, um aumento em relação às 350 avaliadas na edição anterior, abrangendo nove commodities de impacto florestal e representando 85% das florestas do mundo. As cadeias produtivas dessas commodities são responsáveis por cerca de 60% do desmatamento global.
Uma das principais conclusões do relatório é a falta de compromissos abrangentes e a fraca implementação por parte das empresas. Apenas 27% das empresas avaliadas divulgaram metas sobre desmatamento para todas as commodities segundo as quais são avaliadas, enquanto quase dois quintos (39%) têm compromissos parciais, cobrindo apenas algumas commodities. O relatório identificou 168 empresas (34%) como ‘retardatárias’, que atrasam o progresso na eliminação do desmatamento. Dessas, 24 são consideradas ‘retardatárias persistentes’, que nunca assumiram compromissos contra o desmatamento, mesmo após uma década de monitoramento.
A situação é particularmente crítica para as commodities que são os maiores impulsionadores do desmatamento global. Produtos bovinos, incluindo carne e couro, lideram a destruição florestal, mas apenas 37% das empresas de carne bovina e 30% das de couro têm um compromisso em vigor, em comparação com 76% para o óleo de palma. As novas commodities incluídas, como cacau, café e borracha, também apresentam baixas taxas de compromisso.
A implementação eficaz dos compromissos também é rara. Apenas 22% das empresas publicaram evidências de implementação adequada para uma ou mais commodities, e apenas 3% o fizeram para todas as commodities que produzem. A rastreabilidade das cadeias de suprimentos, essencial para verificar a conformidade, é inexistente em 58% das empresas para qualquer commodity.
O relatório também enfatiza que o desmatamento é frequentemente acompanhado ou precedido por abusos de direitos humanos, afetando gravemente os povos indígenas e comunidades locais que dependem das florestas. No entanto, apenas 6% das empresas possuem políticas abrangentes de direitos humanos para uma ou mais commodities, e um terço não publicou nenhum compromisso sobre os abusos de direitos humanos associados ao desmatamento.
O relatório conclui com recomendações para os diferentes grupos de empresas, instando as retardatárias a avaliarem sua exposição aos riscos de desmatamento e direitos humanos e a publicarem compromissos abrangentes. As empresas com compromissos parciais são incentivadas a publicar evidências de processos de implementação, incluindo rastreabilidade e monitoramento. As empresas líderes devem continuar a elevar a barra, defendendo regulamentação ambiciosa e engajando seus fornecedores.
Com a aproximação da COP30 em Belém, o relatório destaca que a falha em agir agora aumentará os riscos e custos no longo prazo, independentemente da incerteza política global.