MP-SP oferece acordo financeiro a Pablo Marçal para encerrar processo sobre expedição arriscada no Pico dos Marins

Pablo Marçal durante expedição no Pico dos Marins em 2022

Uma proposta de transação penal foi apresentada pelo Ministério Público de São Paulo (MP-SP) a Pablo Marçal (PRTB), visando o arquivamento de um processo originado por uma controversa expedição ao Pico dos Marins, localizado em Piquete (SP), ocorrida em janeiro de 2022. O órgão sugere o pagamento de R$ 273,2 mil, equivalente a 180 salários mínimos atuais, quantia que seria revertida para uma entidade com finalidade social.

Marçal foi alvo de denúncia por 32 vezes, fundamentada no artigo 132 do Código Penal, que tipifica a conduta de “expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente”. A acusação se refere à liderança de um grupo de pelo menos 32 pessoas em uma subida ao pico sob condições climáticas extremamente adversas, colocando a segurança dos participantes em grave risco.

Apesar da formalização da denúncia, o MP-SP optou por oferecer a possibilidade de um acordo para evitar o prosseguimento da ação penal. A Justiça estabeleceu, em 13 de março, um prazo de 15 dias para que a defesa de Pablo Marçal se manifeste sobre a aceitação da proposta. Até o momento da publicação desta matéria, não houve retorno oficial dos advogados do empresário.

Na ausência de uma resposta dentro do prazo estipulado, caberá ao Judiciário analisar se acolhe ou rejeita a denúncia apresentada pelo Ministério Público. Contatados, nem a defesa de Marçal nem o MP-SP ofereceram comentários adicionais sobre o andamento do caso.

Documentos do processo detalham que a expedição ocorreu nos dias 4 e 5 de janeiro de 2022. Marçal teria incentivado a subida, mesmo ciente das condições desfavoráveis, sob o argumento de que superar o desafio físico seria uma metáfora para alcançar o sucesso na vida. O MP descreve que os participantes iniciaram a trilha em grupos separados, mas foram surpreendidos por chuva intensa, neblina densa, ventos fortes e visibilidade reduzida.

Conforme a promotoria, o grupo se reagrupou próximo ao Morro do Careca, onde Marçal indicou os próximos passos. Um dos guias contratados alertou sobre a inviabilidade de continuar, destacando os perigos iminentes, mas o aviso teria sido ignorado. Parte dos seguidores optou por retornar à base, mas 32 pessoas decidiram prosseguir, enfrentando rajadas de vento que, segundo o MP, atingiram 100 km/h e visibilidade quase nula (cerca de 10 metros).

Na madrugada do dia 5 de janeiro, por volta das 4h, um integrante do grupo que seguiu adiante conseguiu contatar via rádio o guia que havia alertado sobre os riscos, solicitando socorro. Este guia, inclusive, teria sido chamado de ‘covarde’ por Marçal. O Corpo de Bombeiros foi acionado e iniciou as buscas às 6h da manhã.

Após aproximadamente duas horas de caminhada em condições difíceis, as equipes de resgate localizaram um primeiro grupo de 14 pessoas, a cerca de 1,5 km do cume. O MP relata que eles estavam “sem nenhum guia, com roupas inapropriadas para a travessia e encharcadas, parcialmente acampados fora da trilha…, os quais foram localizados pelos gritos, todos psicologicamente abalados”. Este grupo foi conduzido de volta à base por parte da equipe de bombeiros.

A outra parte da equipe de resgate continuou a busca e, após mais uma hora, encontrou o restante do grupo liderado por Marçal. Toda a jornada foi documentada e compartilhada nas redes sociais do próprio empresário. Vídeos mostram o grupo enfrentando o mau tempo desde o início, com Marçal insistindo na subida e até realizando uma oração para que Deus “desviasse o vento”.

“Eu sei no meu coração que dá pra subir. Vai ser a pior experiência de todas… A gente não tá pedindo nada disso. Só estamos pedindo para o Senhor desviar o vento”, disse Marçal em um dos registros. Ele também compartilhou imagens de participantes exaustos e com frio, sendo encorajados a ver a situação como uma “chance de crescimento” e a “vencer os medos”.

Na época do resgate, os bombeiros envolvidos criticaram duramente a atitude de Marçal, classificando-a como “totalmente irresponsável”. O capitão Paulo Roberto Reis, chefe da operação, afirmou que “subir com um grupo de pessoas despreparadas e sem equipamento é colocá-las sob risco de morte”, considerando a ação como uma das piores já vistas na região.

O Pico dos Marins, com seus 2.420 metros de altitude, é o quarto ponto mais alto de São Paulo e um destino popular para montanhismo. No entanto, a subida é considerada de dificuldade média a pesada e recomendada apenas durante a estação seca (abril a agosto), sempre com guias experientes e equipamentos adequados, devido à complexidade da trilha e ao histórico de pessoas perdidas e acidentes fatais, como o notório desaparecimento do escoteiro Marco Aurélio Simon em 1985.

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