
A Organização dos Estados Americanos (OEA) manifestou, nesta segunda-feira, seu respaldo aos resultados do segundo turno das eleições presidenciais no Equador, que confirmaram a vitória de Daniel Noboa. A eleição ocorreu em um clima de tensão, exacerbado pela violência relacionada ao narcotráfico. Noboa superou Luisa González, candidata de esquerda, em um segundo turno marcado por uma disputa acirrada. Com mais de 90% das urnas apuradas, Noboa liderava com uma vantagem superior a um milhão de votos, representando uma diferença de 12 pontos percentuais (56% contra 44%). A OEA desempenhou um papel de observadora durante todo o processo eleitoral.
Em comunicado oficial, a OEA destacou a participação pacífica e expressiva da população equatoriana durante o dia da votação. A missão de observação da organização ressaltou a importância do exercício democrático em um momento crucial para o país. Luisa González, por sua vez, declarou a seus apoiadores que não reconhece os resultados divulgados e que irá solicitar formalmente uma recontagem dos votos. A candidata questiona a lisura do processo eleitoral, alegando possíveis irregularidades, embora não tenha apresentado evidências concretas de fraude.
No primeiro turno, Noboa e González apresentaram resultados muito próximos, com uma diferença de apenas 0,17% a favor da candidata de esquerda. As pesquisas de intenção de voto indicavam um empate técnico entre os dois candidatos, o que tornou a vitória de Noboa uma surpresa para muitos analistas. Em resposta à crescente violência no país, Noboa decretou estado de exceção, com duração de 60 dias, em sete das 24 províncias do Equador, incluindo Quito, e no sistema prisional. A medida visa conter a ameaça representada pelo tráfico de drogas e restabelecer a ordem pública.
A votação transcorreu sem incidentes de segurança significativos e registrou uma participação de quase 84% dos eleitores, segundo informações de Diana Atamaint, presidente do Conselho Nacional Eleitoral. A alta taxa de comparecimento demonstra o engajamento da população com o futuro político do país. Ainda no domingo, González expressou a seus apoiadores a sua discordância com os resultados, classificando-os como uma fraude “grotesca” e anunciando que buscará uma recontagem dos votos. No entanto, ela não apresentou provas que corroborassem suas alegações nem convocou manifestações de protesto.
Antes mesmo da votação, Noboa, González e o ex-presidente Rafael Correa manifestaram preocupações sobre possíveis fraudes. No primeiro turno, uma denúncia de fraude apresentada por Noboa foi descartada por observadores internacionais. Nos bastidores, alguns membros influentes do partido de González, a Revolução Cidadã (RC), começaram a reconhecer individualmente a vitória de Noboa nesta segunda-feira, sinalizando uma possível divisão interna na legenda.
O Equador enfrenta um período turbulento, marcado pela escalada da violência relacionada ao tráfico de drogas. O aumento no número de homicídios, o assassinato de um candidato à presidência, a tomada de prisões por grupos criminosos e um ataque armado a uma emissora de televisão durante uma transmissão ao vivo são exemplos da grave crise de segurança que assola o país. Raquel García, uma equatoriana de 23 anos, desabafou sobre o clima de insegurança e as dificuldades econômicas enfrentadas pela população. A falta de empregos e a violência generalizada tornam o cotidiano dos cidadãos extremamente difícil.
José Antonio de Gabriel, chefe-adjunto da missão de observação da União Europeia, ressaltou a tensão e o nervosismo que marcaram o segundo turno das eleições, em decorrência da crise de segurança. Noboa, que se define como um político de centro-esquerda, mas que na prática adota políticas de centro-direita, implementa medidas neoliberais. Uma década de gastos públicos elevados, sem a receita proveniente da exploração de petróleo, elevou a dívida pública para cerca de 57% do PIB, segundo dados do FMI. A produção de petróleo não atinge 500.000 barris por dia desde 2020, devido à falta de investimentos. O desemprego e o subemprego afetam cerca de 23% da população, e a pobreza atinge 28% dos equatorianos, em um país que concentra seus esforços no combate ao narcotráfico.