A influência de Donald Trump nas eleições canadenses de 2025 resultou em um cenário político surpreendente, impulsionando a vitória do Partido Liberal liderado por Mark Carney. A postura de Trump em relação ao Canadá e suas políticas protecionistas geraram uma reação que fortaleceu a centro-esquerda canadense.
Créditos : G1
Em um resultado surpreendente, o Partido Liberal do Canadá, liderado pelo novo primeiro-ministro Mark Carney, garantiu a vitória nas eleições desta segunda-feira, em um pleito marcado pela influência indireta das políticas e declarações de Donald Trump. A insistência de Trump em questionar a soberania canadense e suas propostas de integração econômica forçada catalisaram um movimento de apoio ao Partido Liberal, revertendo uma tendência de queda nas pesquisas que se observava desde o início do ano. Anteriormente, o Partido Conservador, sob a liderança de Pierre Poilievre, desfrutava de uma considerável vantagem, alimentada pelo descontentamento popular com a economia e o longo período de governo liberal.
O cenário político global recente tem sido desfavorável para governos em exercício, com perdas significativas de apoio em diversos países. No entanto, as eleições canadenses desafiaram essa tendência, impulsionadas pela escolha estratégica de Carney, um nome novo na política, ex-chefe dos bancos centrais do Canadá e da Inglaterra, para liderar o Partido Liberal após a renúncia de Justin Trudeau. Carney adotou uma postura firme contra o que o partido descreve como uma ameaça à soberania do Canadá, representada pelas políticas de Trump. Apesar de Trump não demonstrar a mesma animosidade pessoal em relação a Carney como demonstrava em relação a Trudeau, os interesses políticos e econômicos dos dois países parecem estar em rota de colisão.
Uma das principais promessas de Carney é iniciar negociações comerciais urgentes com os Estados Unidos, visando evitar a imposição de tarifas sobre as exportações de automóveis canadenses, previstas para entrarem em vigor em breve. A economia canadense, altamente dependente do comércio com os EUA, enfrenta um risco considerável caso uma guerra comercial se materialize. Carney, com sua experiência como economista e banqueiro, assegura que fará todo o possível para evitar uma recessão no Canadá.
A influência de Trump na política canadense ficou evidente quando, durante o dia da votação, o presidente americano reiterou sua visão de que a fronteira entre os dois países é “artificial” e sugeriu que o Canadá se beneficiaria ao se tornar um estado americano. A ascensão de Carney ao poder ocorre em um momento crítico, com o Canadá enfrentando um dos maiores desafios de sua história recente em relação ao seu vizinho superpoderoso. A maneira como líderes mundiais lidam com um segundo mandato de Trump ainda está sendo definida, mas o desafio enfrentado pelo Canadá é particularmente singular.
Apesar do resultado favorável, não se espera que o Partido Liberal expresse gratidão a Trump, nem que o presidente americano adote uma postura mais conciliatória. O cenário mais provável é a continuidade das tensões, com novas provocações sobre a anexação do Canadá, ameaças de guerras comerciais e questionamentos sobre os laços e acordos históricos entre os dois países.
A ironia da situação reside no fato de que a atenção constante de Trump ao Canadá pode ter impedido a eleição de um governo conservador, liderado por um político mais alinhado com suas prioridades. Pierre Poilievre, líder do Partido Conservador, compartilha algumas semelhanças com Trump, defendendo um governo menor, redução de impostos e serviços sociais, e o aumento da produção de combustíveis fósseis. Assim como Trump, Poilievre critica o que considera uma cultura “woke” de esquerda. Uma vitória conservadora no Canadá seria interpretada como um sinal de que a eleição de Trump não foi um evento isolado, mas parte de um movimento global em direção a políticas conservadoras, anti-elite, anti-imigração e pró-classe trabalhadora.